sábado, 7 de fevereiro de 2009

Recriação - Infância Perdida


Em cada canto do mundo, fotografos de guerra arriscam as suas vidas trazendo na bagagem momentos chocantes, trágicos, desumanos, mas acima de tudo, reais. Por outro lado mostram-nos sem artifícios a humanidade como ela é, para o bem e para o mal, tanto podem mostrar o extremo da crueldade humana como uma réstia de esperança num cenário de desolação. Os seus únicos objectivos são chegarem intactos e abrir os olhos ao mundo com as suas imagens. Parece-me ser este o uso mais importante da fotografia. A guerra é a actividade humana que tem os efeitos mais profundos nas populações mais numerosas.
James Nachtwey, tem sido testemunha disso, um dos fotógrafos de guerra mais famosos, cobriu todos os conflitos e horrores do mundo nos últimos 27 anos. “Eu tenho sido uma testemunha e as minhas fotografias são o meu testemunho. Os eventos que tenho gravados não podem ser esquecidos, nem repetidos!” assim descreve o seu trabalho.
James Nachtwey conseguiu captar a passagem de uma pequena criança abandonada a quem foi roubada a vida da sua família. Na imagem original, não sabemos onde começou a caminhada deste ser abandonado, mas vemos o rasto de destruição e as marcas penosas que ele teve de ultrapassar. O único brinquedo que crianças como esta têm nas mãos ao longo de toda a sua vida é uma arma. Trocando papagaios de papel por balas perdidas, música por explosões e o conforto por minas, crianças como esta crescem à força tendo de matar para sobreviver.
A intenção inicial deste projecto foi recriar uma imagem do fotógrafo que mais admiro. Desde sempre que as fotografias de James Nachtwey chamam a minha atenção, a sua atitude e coragem são surpreendentes e todo esse carácter fica expresso em cada fotografia que dispara. Escolhi como titulo “Infância Perdida” pois esta fotografia transmite-me essa ideia. Uma criança que não tem o apoio ao seu lado para o guiar entre estilhaços e o cheiro a morte. Vou recriar a mesma criança na idade adulta, mantendo o mesmo enquadramento e uma força no olhar igualmente forte. Substituindo a profundidade de campo da imagem original por um edifício que vai de um canto ao outro da imagem, simbolizando a barreira entre o passado e o presente tapando a rua onde deixou toda a sua família e infância
Podíamos dizer como é que a guerra afecta o nosso presente, mas é no futuro que conhecemos as consequências. A alma de alguém que ultrapassou uma guerra, é forte. Ao contrário da memória que é penosa e fragilizada. Por quem a guerra passou, só resta aprender a viver sem aqueles que amou e sobreviver com aqueles que mataram a sua família.

Cláudia d'Almeida

3 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom!! este foi um dos trabalhos que mais me deu gozo fazer para O.M. ...

desculpa lá nunca mais te ter respondido, mas tenho andado bastante ocupado, qualquer coisa manda msg para o telemovel...


beijo***** ;)

João Raimundo

Fábio Ferreira disse...

Não foi ha muito tempo em que a Claúdia me falava entusiasmada no trabalho que andava a fazer. Podes chamar recriação, mas para mim o que tu fazes sempre é novo e único. Parabens pelo trabalho que o teu professor não soube apreciar :)

Anónimo disse...

Então rapariga, perdeste o meu "discurso" sobre o estágio no IPF... lool

td bem?

******

João Raimundo